
Uma brincadeira, por causa de Joaquín Sabina.
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Eu queria escrever à bebida que aqueceu o meu Inverno,
Ao pecado de Deus, ao ladrão, ao hotel, à maçã sem inferno;
A esta voz que é minha e não canta mas experimenta outra sorte,
À coragem de sair à rua para “boxear” a morte.
Aos tangos que sobrevivem, a um fado que morre de pena,
Ao Caín que esqueceu Abel por causa de Helena,
À flor arrancada do jardim num gesto infecundo,
A todos os que se esquecem de mim neste poço sem fundo.
Minha Afrodite, minha Musa, minha Eva
(as princesas não existem)
Meus amigos, meus matraquilhos, o “tal” lance livre,
Minha utopia, meu sonho proibido de viver só de amar-te,
Eu queria escrever ao café onde sem querer comecei a escutar-te.
Meu bloco de notas, minha chave da Lua, teu adeus, meu regresso,
Minha assassina que recarrega o revólver com um só beijo,
Não sabia que um tiro desses era tão profundo,
Nunca escreverei a canção mais bonita do mundo.
Eu queria escrever à cigana que já não lê as sinas,
Ás noites perdidas de tanto andar…pelas tuas esquinas,
Aos loucos dos bares, aos insanos filhos dos Quijotes
Ao monte das oliveiras onde beijam os Iscariotes,
A Chico Buarque, Dagermaan, Kafka, à face envergonhada,
À lágrima do Fevereiro que chorei quando me foi roubada,
Ao meu disco não feito que quebraste na minha cara,
Às boleias que quero apanhar…quando ninguém pára.
Livrei-me dos felizes tristes que seguem a moda,
Aprendendo nas aulas à noite dos whiskys sem soda,
Com um bilhete achado fiz um “tour” percorrendo uma boca,
Que farias tu se “Magdalena” se fosse como Joana “a louca” ?
Diante da Diana de Évora queimei as minhas bandeiras,
Se me perdes de vista então encontrar-me…não queiras,
Herdei um pacto de cavalheiros que não foi cumprido,
Naufragou o meu coração por um mar que já foi esquecido
(Eu queria fazer antes de Sabina)
a canção do bonito final, do pirata sem perna,
contra todos os sérios que me rodeiam na vida moderna,
a do álcool que alegra a alma do vagabundo,
a do verso brilhante que salva o poema moribundo
…e só pude escrever a canção mais falhada do mundo.