
O Quijote do Cervantes é inesgotável. Por mais que o tenhamos lido encontram-se sempre pérolas. A minha frase preferida é desse livro. Mas a que agora coloco aqui foi a última pérola encontrada, anteontem.
Dizem, referindo-se ao Quijote, no funeral deste: "De tanto viver a vida matou a morte".
Caramba, que pérola! Inverte todas as ordens colocando a posição natural do ser humano numa condição de não-vida (que há que matar). Essa é pois (aqui) a primeira instância onde o ser-humano, afinal, se encontra. Como a termina (como mata a morte em que está (rotinas, costumes, hábitos...))? Resposta genial porque não diz, simplesmente, "vivendo". Afirma uma dimensão última do acto de viver: "de tanto viver a vida...".
Só nos limites da vivência a morte por fim morre (e o sujeito vive, pois que a morte morreu).
Enfim, uma pérola. Ou então estou doido. Ou ambas as coisas para que se possam corresponder em projecção de sentido. E não sentirem-se sós.
2 comentários:
Também acho que esta frase é fantástica e que encerra muita felicidade; porque só a viver desta maneira se consegue aproximar, nalguns momentos, dela.
Até que enfim que está a ficar um pouco menos depressivo: ainda bem!!
Caro Rui,
não estás a ficar louco, porque se estiveres, então estamos a ficar os dois. Adorei a frase que comentaste, mas a frase por si só, sem o comentário anexado, seria uma de tantas pérolas poéticas, por vezes incompreensíveis e, por isso, belas!
Um abraço
Valter
p.S. Não conhecia o teu blog. Acabaste de arranjar um cliente assíduo
Enviar um comentário